Dydy na Pais & Filhos
Depois de ter os dois filhos em casa, Dielly ficou apaixonada pelo momento do parto. Tanto que se especializou em obstetrícia, para ajudar outras mulheres a sentirem o que ela sentiu
Não foi difícil escolher o parto domiciliar. Sendo enfermeira, conheço bem o ambiente hospitalar e eu queria mais do que um parto normal convencional.
Em 2002, engravidei de meu primeiro filho. Não se falava ainda em parto domiciliar. Procurei uma enfermeira obstetra e comecei a estudar e a me apaixonar por esta possibilidade. Queria minha mãe e meu marido por perto.
Não queria cobranças, ordens ou rotinas, mas sim respeito, segurança e, principalmente, paz. Precisava da certeza de que tudo seria como desejei, a menos que fosse absolutamente necessário. E foi o que tive.
Meu primeiro filho nasceu de um trabalho de parto de quase 24h. Doeu, pensei em anestesia, cesárea, mas tinha comigo as pessoas mais importantes de minha vida por perto. O parto foi na água, e assim que meu filho saiu do meu útero, ele veio para meus braços. Nenhum cuidado rotineiro como aspiração, vacina ou mesmo banho eram mais importantes do que aquele meu momento, o primeiro instante que vi meu filho tão esperado.
Sempre tive vontade de reviver aquele sentimento e ser mãe de novo, até que...Em 2007, engravidei novamente. Foi uma gravidez saudável e não quis saber o sexo até o parto, apesar de sentir claramente que seria uma menina.
Era um domingo de dezembro, e depois de uma soneca da tarde com meu marido, acordei com cólicas. Tomei um banho morno e quis caminhar, mas as contrações não passavam. Avisei a enfermeira que faria meu parto, a Helô, só porque prometi, mas não acreditava que estivesse em trabalho de parto. Como eu não sentia dor alguma, diferente do primeiro, não quis acreditar...
A parteira pediu pra eu ficar em casa e logo senti um estalo e alguma coisa escorrer. Quando vi, estava toda molhada: a bolsa havia rompido. Foi quando comecei a sentir um pouco de dor. Colocamos as músicas do Marcus Viana que planejei para o parto e fui relaxar. A Helô chegou em casa umas 23h, minutos antes do nascimento.
Este parto foi muito intenso. Senti dor, mas foi muito rápido. Em meia hora nasceu minha menina, toda envolta em cordão umbilical e cheia de saúde. Meu marido foi a primeira pessoa a tocar nela, ele a trouxe para meus braços. Nós a beijamos e a abençoamos. Foi muito especial.
Sou apaixonada pelo momento do parto. Eu sempre digo que o parto me transformou. No primeiro, dormi menina e acordei mulher. No segundo, dormi mulher e acordei deusa. Até a dor é importante.
Mas o que difere um parto normal hospitalar de um parto domiciliar é a liberdade. Já assisti vários partos hospitalares, mas nenhum deles foi natural, a começar por serem fora de casa, fora do ninho, ao contrário de qualquer outro mamífero.
Dificilmente há alguma privacidade, habitualmente há indução com ocitocina no soro, o que torna as dores insuportáveis, sem contar os procedimentos agressivos. E o pior é que raramente esses procedimentos são necessários, em detrimento da freqüência com que são realizados.
Meus partos mexeram tanto comigo que me especializei em obstetrícia e hoje ajudo outras mulheres a sentirem tudo que senti. Talvez por gratidão ao universo, talvez por dom. O fato é que o nascimento não é um evento médico: é natural e sagrado.
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